Síndrome do ninho vazio

O Enem acabou. Confesso que mais uma vez me comove o esforço de moças e rapazes, tão novinhos ainda — tentando com muito sacrifício conseguir a tão sonhada vaga na Universidade.

Lembrei que, como mãe, também já havia passado por todo aquele sacrifício que muitos pais passam todos os anos. Quando eu ensinava, percebia, olhando a lista de presença, que muitos daqueles jovens vinham de outros estados. Passei um tempo pensando com os meus botões e cheguei à conclusão que hoje, como antigamente, a educação não deixa de ser um meio de separação entre pais e filhos. Hoje é o SISU que leva nossos filhos para longe.

Antigamente, a educação era restrita aos fidalgos, aos filhos dos coronéis e dos barões do café que também deixavam suas fazendas para estudar em Universidades do Rio de Janeiro e até na Universidade de Coimbra em Portugal. É verdade que hoje, com a globalização e a democratização da educação, podemos dizer que as Universidades se “deselitizaram” e é possível ver em seus corredores tanto os filhos de pais ricos como os filhos de pais de baixa renda, brancos e negros. E isso é muito bom.

Não resta a menor dúvida de que a educação é a maior herança que a maioria dos pais pode deixar para os filhos, pois é algo que nem o tempo conseguirá acabar e que ninguém poderá roubar deles. No entanto, é através dela, que os pais começam a perde-los para o mundo.

Que mulher, que mãe não teve aquela sensação de perda, aquele frio na barriga; não sentiu as lágrimas chegarem até aos olhos quando deixou pela primeira vez seus filhos na escola? Pois é! É a partir deste momento que começa a grande “separação” entre eles.

Em outras décadas, houve uma geração que se chamava “Geração Canguru”; onde filhos jovens ou mesmo adultos, já formados e até independentes, relutavam em deixar a casa dos pais. Atualmente é mais difícil, mas ainda existem alguns que não querem desgrudar dos benefícios de morar com os pais. Hoje, em nossa sociedade, devido à grande concorrência nos vestibulares e à grande competitividade no mercado de trabalho, o que mais se vê são jovens — muitos deles — sem qualquer experiência de vida, precisando sair de suas casas, deixando a segurança e a proteção dos pais, o carinho dos irmãos, dos amigos, enfim, o seu ninho, para cursar universidades em outros estados, em outras cidades e até em outros países, como antigamente, tudo para conseguir o seu lugar ao sol.

Daí que surge a “Síndrome do ninho vazio,” onde pais ainda jovens e com toda a capacidade de amar e de orientar seus filhos ficam sozinhos logo cedo. Antes, os pais ficavam velhinhos e ainda tinham os filhos junto a si. Hoje, o que vemos é que muitos pais estão sendo “obrigados” a deixar os filhos voarem com as próprias asas, entregando-os tão jovens para a vida.

Sei que é utopia, todavia, como seria bom se houvesse no país um maior compromisso com a educação; que ela fosse mais valorizada; que todas as cidades pudessem ter a sua própria universidade, o que permitiria que filhos — quase adolescentes ainda, — não precisassem recorrer à saída de seus lares em busca do seu próprio destino. Só nos resta então, ter esperanças. Quem sabe, se este sonho de todos os pais um dia, se torne realidade.

Esperamos que sim. E logo.

(Um aparte).

Este texto acima foi escrito anos atrás. Encontra-se em meu primeiro livro “Retalhos de uma vida”. Repeti-o porque o sonho de termos nossos filhos perto de nós, por mais tempo, se concretizou. Parece que hoje existem faculdades até demais em todas as esquinas de todas as cidades. Só espero que elas sejam de qualidade, do contrário correremos o risco de termos profissionais sem muita qualificação, o que seria um desastre. Engenheiros, Arquitetos, médicos, advogados, professores, e toda uma gama de profissionais sem capacidade para atuar na sociedade.

Deus nos salve!

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