Pois então, como o próprio título diz, este texto fala sobre mulheres. E quando penso em escrever sobre mulheres, logo me vem à cabeça flashes de conversas com amigas, com irmãs; notícias a respeito de feminicídios, violência contra a mulher, desfiles de moda, entrevistas com mulheres. Enfim, uma parafernália de ideias que além de me deixar indignada me faz ver também que ser mulher nunca foi e parece que nunca será fácil, desde os primórdios até a contemporaneidade ser mulher não é mole não.
Gostaria de falar sobre a mulher em seus mais variados aspectos, morais, sociais, políticos, raciais, profissionais e individuais, mas pensando bem, esse texto ficaria muito chato, uma vez que esses aspectos já foram bastante explorados, por isso quero mostrar minhas ideias e impressões a respeito do “ser mulher” de uma maneira mais descontraída, mais leve. A vida da mulher já é tão complicada, não é?
Parafraseando Martinho da vila, a gente sabe que “existem mulheres de todos os tipos, de todas as cores, de todas as idades, de muitos amores; casadas carentes, solteiras felizes” contudo, o que importa é que ser mulher muitas vezes é ser luz no fim de um túnel quando tudo parece perdido. Ser mulher é se fazer respeitar, independentemente, de sua raça, classe social ou aparência física, simples assim. Ser mulher é ter sensibilidade para entender e aceitar os desafios que surgem em sua vida a todo o momento e conseguir superar e vencer todos eles.
Sou uma mulher altamente curiosa, autocrítica por natureza, bastante observadora, às vezes preconceituosa, sim, mas, quem não é; e que prefere ver e ouvir, a falar, e eu as escuto no dia a dia, nas filas de padaria, na TV, nos Jornais, nas filas de banco, de supermercado e shoppings e nos encontros com amigas e colegas a respeito do que é: ser mulher. Temas como: o casamento, filhos, violência, trabalho, saúde, beleza, moda, ninho vazio, menopausa, libido, velhice e por aí vai..., certamente, é do que mais falamos.
Neste momento em frente ao computador, fico pensando em quantas mulheres, independente de raça, de situação financeira, de opção sexual, casadas ou solteiras, felizes ou infelizes, mães ou não, que por ventura cheguem a ler esse texto, poderão concordar ou não comigo sobre suas inquietações quanto ao que estamos fazendo com o tempo que nos é dado viver e nos transformar, já que viver é um transformar-se sempre.
Será que estamos nos transformando? Será que um dia nossas filhas e netas conseguirão ter uma vida melhor que a nossa? Será que conseguirão atingir seus objetivos sem as pressões, os tabus e os preconceitos que passamos a vida tentando quebrar? Sendo uma mulher do meu tempo procuro escrever sobre nossas dores e perplexidades, nossas tradições e costumes, nossas grandezas e fragilidades; frustrações, tempo, beleza, empoderamento, casamento, trabalho, filhos, vida, morte tentando vivenciar e compartilhar as alegrias e tristezas com as quais todas nós convivemos.
Estamos num tempo de falar, de reclamar, de termos vez e voz, e, principalmente, não ter medo. Chega de violência contra a mulher, de feminicídio — essa palavra nova e tão repetida atualmente. Chega de discriminação profissional – a mulher deve ou não ganhar mais que os homens? Somos mais fortes ou mais fracas? Claro que somos mais fracas. Quem vai discutir isso? É de nossa natureza e o homem sempre será o mais forte, fisicamente, bem entendido. Se pensarmos sob essa ótica, poderemos até nos considerar “inferiores” ou “sexo frágil”, como estamos acostumadas a ouvir. No entanto, talvez, estes não sejam os termos apropriados. Eu diria que somos sim, singulares, diferentes. Jamais frágeis ou inferiores.
Chega de discriminação racial. Será que “espicho” meu cabelo deixando-o bem lisinho como o das atrizes ou deixo black-power? Francamente. Quem aguenta mais isso? Chega de regras! Do que posso ou não falar. Do que posso ou não vestir. “Não, mas do jeito que ela está vestida tá pedindo pra ser estuprada”, dirão alguns.
Chega de se olhar o corpo da mulher como um produto! De como devemos nos comportar “fale baixo, não cruze demais as pernas, sua saia tá muito curta, Não rebole muito os quadris ao andar; sorria baixo”, não beba álcool nas festas. Chega de disso! Chega de violência e aliciamento sexual, de estupro coletivo! Vamos ser “sem-vergonhas”. Vamos denunciar estes machistas estupradores que ainda pensam que as mulheres nasceram para servirem de depósito de sêmen para eles. Está na hora de reagirmos. Afinal, a “culpa” não é nossa se muitos homens se mostram mais irracionais do que racionais. O tempo de perder-se e limitar-se já passou. Estamos em um tempo que nos permite fazer melhores escolhas para crescer e acumular. Nada é mais como no passado.
Hoje, somos autoras de boa parte de nossas escolhas e omissões, audácia ou acomodações, mas, em contrapartida, temos de nos sentir responsáveis pelo de bom ou de ruim que nos possa acontecer. Temos de ter a consciência de que jamais seremos poupadas dos acasos brutais que nos roubam amores, nos roubam pessoas, nos roubam saúde, emprego, segurança e ideais.
Estamos sempre em processo de transição, de transformação, e, enquanto estivermos no mundo, teremos de procurar viver a vida como ela se nos apresenta da melhor forma possível.
Mas não podemos prescindir jamais de uma coisa: da eterna busca da felicidade, isso: é SER MULHER.
Valéria Vanda Xavier Nunes – Escritora
@Valeriaxavier_autora