Empoderamento. Neologismo criado por Paulo Freire que tem origem no termo inglês “empowerment” que define um conceito fundamental para entender as aspirações de alguns movimentos sociais.
Não sei vocês leitores, mas esta é uma expressão que eu não aguento mais ouvir: empoderamento feminino. Não me perguntem o porquê, que eu não sei. Mas não é assim? Não existem palavras com as quais a gente não simpatiza? Pois então, “empoderamento feminino” pra mim é uma delas. Está tão falada que logo começará a perder a força; o poder que ela deveria ter. Mas, como é a palavra do momento, vamos ter de ouvi-la muitas vezes ainda. É só assistir aos programas de TV, ler jornais, revistas, entrevistas ou documentários que ela aparecerá num momento ou noutro.
O termo “empoderamento” conceitua o ato ou efeito de promover uma conscientização e tomada de poder de influência de uma pessoa ou de um grupo social com a finalidade de realizar mudanças de ordem social, política, econômica e cultural em um contexto que lhe afeta. No caso, empoderar-se seria uma conquista coletiva das minorias, não apenas restrito à bandeira feminista, nem à descriminação racial e nem ao homofobismo como já se chegou a dizer.
É verdade que antigamente as mulheres tinham seus direitos cerceados. Não podiam votar, nem trabalhar fora de casa e muito menos sair à rua sem a companhia de um homem, fosse esse seu marido, irmão ou pai. Hoje, as mulheres descobriram a sua força, sua determinação e coragem; e quando elas se juntam, quando querem algo de verdade, nada as detêm. Estas são características que as mulheres da nova Era exibem. Graças a muita luta, um dia elas foram consideradas “capazes” de ocupar cargos que antes só eram ocupados por homens. Por muitos séculos, foram consideradas um ser “inferior”; um ser “frágil” Será? Inferior em que sentido, eu me pergunto. Na força física? No intelecto? Ou não terá sido a sociedade de classes quem colocou o homem em posição superior à mulher. Ou foi a castidade da Igreja que obrigava as mulheres a repudiarem o que consideravam o “socialmente aceito,” transformando-as em seres submissos e dependentes do sexo oposto por tanto tempo. Assim sendo, por séculos, a mulher “sujeitou-se” a ser apenas “a mãe e a dona de casa” enquanto o homem era o “provedor”. Por muito tempo a mulher “oprimiu-se”, deixando para o homem as funções que hoje, felizmente, podem ser exercidas pelos dois sexos e, em muitos casos, ela até consegue se sobressair ainda mais que ele em muitos cargos e profissões.
Mas será que só agora é que as mulheres estão com essa corda toda? Não, de jeito nenhum. Há séculos que a mulher vem tentando mudar a história e derrubar os preconceitos, seja por atos individuais ou ações coletivas, numa luta para tornar o seu lugar na sociedade mais seguro e respeitado. É uma luta constante; de quebra de braços mesmo. Quebra de paradigmas, de conceitos, de falas e de costumes.
Quem em sua vida não ouviu falar de Anita Garibaldi — revolucionária catarinense, forte e determinada, que lutou contra os pensamentos reacionários de sua época? De Olga Benário — uma alemã que lutava contra as injustiças e desigualdades sociais, trazendo sua força até aqui, ao nosso Brasil? Virgínia Woolf — escritora inglesa que criticava o papel das mulheres e as dificuldades enfrentadas no dia a dia. Simone de Beauvoir — francesa feminista, filósofa, escritora, intelectual e ativista que junto de seu “homem”- Jean Paul Sartre-; lutava pelas causas sociais, existencialistas e políticas. É dela a frase que mais incomodou naquela época sombria para as mulheres: “Ninguém nasce mulher, torna-se mulher.” E Hilda Hilst — poetisa e escritora. Mulher excêntrica e polêmica que conseguia abolir as preocupações mundanas da época. Não viveu um casamento convencional; não teve filhos nem vida doméstica, não tratava de questões cotidianas nem era esposa.
Quem poderá dizer que Maria Bonita não foi uma mulher empoderada? Uma mulher que rompe com o marido e vai embora com um cangaceiro é sim, uma mulher empoderada. Uma mulher determinada que não satisfeita com seu casamento opta por uma vida louca e errante numa atitude transgressora para aquela época tornando-se uma líder ao lado de um sanguinário. Bonita e vaidosa, mesmo errante como vivia, criou uma noção de feminilidade em uma região onde as mulheres eram tratadas como animais.
Iguais a estas mulheres fortes e guerreiras existiram muitas outras no passado. Mas, como não estou escrevendo um ensaio acadêmico, vamos em frente.
É verdade que hoje votamos e somos votadas. Ocupamos cargos antes inadmissíveis. Temos direito de ir e vir, de escolher o parceiro ou parceira com quem queiramos dividir nossas vidas. De casar ou não casar. No entanto, há quem defenda, e eu concordo plenamente, que a banalização das expressão empoderamento feminino está enfraquecendo o seu sentido real, principalmente, porque estão confundindo-a com anarquia; com liberdade desmedida; com “fazer o que se quer” e o que “der na telha” como dizem muitas mulheres que se consideram “feministas e empoderadas” sem nunca terem tido nas mãos um dos dois volumes de “O Segundo Sexo” da feminista francesa Simone de Beauvoir — precursora do feminismo francês — onde ela fala das principais teorias sobre o feminismo e, principalmente, da liberdade da mulher. Porém, muitas mulheres em nome deste empoderamento e desta liberdade, estão passando dos limites do pudor, da decência e da moralidade.
É isso. Hoje, muitas mulheres se consideram feministas quando estão apenas misturando liberdade com libertinagem. Engolir essas falsas feministas, porta-vozes de um novo feminismo, é um pensamento que divide as verdadeiras feministas. Nos anos 60, Leila Diniz, mesmo sem intenção, foi um ícone da resistência à ditadura e, com o seu jeito independente de ser, com ideias bem à frente de seu tempo e com suas declarações irreverentes em entrevistas, já mostrava características de uma feminista nata que deixava constrangidos os conservadores da época. Diferentemente de Leila, mas sem ser preconceitos, hoje temos as Valeskas poposudas, as Anitas, as Pablos Vitar da vida; as Jo Jo e aquelas que se deitam nuas em plena avenida; que defecam nos halls das Universidades; as que usam vestimentas com palavras de blasfêmias sem nenhum respeito às religiões em nome de protestos políticos. São estas as novas mulheres que se dizem feministas sem terem a mínima noção do conceito real de: liberdade de expressão, feminismo e empoderamento.
Repito, estas mulheres estão apenas confundindo: liberdade com libertinagem.
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